quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

COM DESESPERADA RAIVA





Mudas minhas mãos

Meus pés dormem inquietos

Gélido fogo sobe em minhas pernas

Consumindo meus joelhos

Procuro pensar nos pássaros

Acuso-os de terem deixado de cantar

É o fim de agosto

O verão na Suécia foi miserável

O fogo continua sua escalada

É como se eu afundasse

Num desses lagos gélidos da Lapônia

Recordo Verissimo

Gato preto em campo de neve

Meus joelhos não existem mais

Joelhos surdos insensíveis

Golpeio meus reflexos

A culpa é minha

Ninguém espera quinze anos

Seria impossível parar

Esse passar de carros sobre mim?

Carros de combate

Carros de passeio

Barcos de guerra

Barcos a vela

Uma vela se acende

Para quem?

Para mim?

Quem morre em Rio Grande?

Quem morre em Lund?

E esse maldito gelo que sobe

Eu subi por muitas escadas da vida

Senti muitas mortes

Chorei muitas prisões


Aqui estou malditos!

Pretendo esculturar em imperecível granito

Minha raiva meu grito

Para que todo aquele que passar por estas

Ruas do exílio possa ler o crime cometido

Em nossas almas



In: SILVA, Guilem Rodrigues, Saudade e uma canção

desesperada. Salvador: CABINCLA – Casa Baiana

Para Integração Cultural Latino Americana.

Um comentário:

Guilem Rodrigues da Silva disse...

Saramar disse...
Que dor imensa nestas palavras! Quanta angústia! Fiquei angustiada com você, depois de lê-las muitas vezes.
1:35 AM

luciane disse...
Olá, Guilem! Dou aulas de português na Folkuniversitet em Halmstad e utilizo um livro didático escrito por ti. Que surpresa legal saber que és brasileiro e gaúcho. Também sou gaúcha de Porto Alegre.
Vou procurar teus livros de poesias por aqui.
Um abraço do tamanho do Rio Grande!
7:49 PM

alldeias disse...
Oi,guilem,
meu nome é luciana e faço parte de um grupo de brasileiros aqui na suecia que tem uma projeto cultural bem legal.
Na verdade é um sonho latejando pra virar realidade.
Gostaria muito de entrar em contato com você,
meu e-mail é o
luciana_vasc@hotmail.com,

Abraços

Luciana Sá